O Evangelho de Eva é um texto gnóstico quase que totalmente perdido hoje em dia e parte dos Apócrifos do Novo Testamento. É provável que o texto seja o mesmo que também aparece com o nome de Evangelho da Perfeição.
O único conteúdo conhecido dele se resume a umas poucas citações feitas por Epifânio de Salamina (Panarion, 26), um Pai da Igreja que criticou o modo como os borboritas o utilizavam para justificar o amor livre, praticando o coitus interruptus e comendo sêmen como um ato religioso. Enquanto alguns grupos libertinos gnósticos defendiam que uma vez que a carne é intrinsecamente má, deveríamos simplesmente reconhecer isto através de relações sexuais ilimitadas, a grande maioria dos gnósticos seguiu pelo caminho inverso, do extremo ascetismo.
Os gnósticos tipicamente escreviam em múltiplos níveis, embutindo em seus textos complicados significados místicos esotéricos ao invés de seguir uma interpretação básica. É possível que Epifânio tenha falhado em perceber isto e apenas leu o texto no sentido literal. A citação que Epifânio alega ter relação com sêmen é esta:
“ | Eu permaneci em uma sublime montanha e vi um homem enorme, e outro, um anão; e eu ouvi como se houvesse uma voz de trovão e me aproximei para ouvir; e Ele falou comigo e disse: E sou tu e tu és Eu; e onde quer possas estar eu estou lá. Em tudo Eu estou esparramado e sempre que tu quiseres, tu Me recolhes; e Me recolhendo, recolhes a ti mesmo. | ” |
— Evangelho de Eva, citado em Panarion, Epifânio de Salamina. |
Esta outra passagem, diz Epifânio, significa o ciclo menstrual (compare com «No meio da sua rua, e de um e de outro lado do rio, achava-se a árvore da vida, que dava doze frutos, produzindo em cada mês o seu fruto; e as folhas da árvore servem para a cura das nações.» (Apocalipse 22:2)).
“ | Eu vi uma árvore que dava doze frutos cada mês e ele disse para mim: esta é a Madeira da Vida.. | ” |
— Evangelho de Eva, citado em Panarion, Epifânio de Salamina.. |
De acordo com os naassenos, isto refletiria a "semente disseminada no cosmos do Homem Primordial, através do qual todo o univero se consumou". O esparramamento do Logos e o posterior recolhimento relembra os mitos de Osíris e de Dioniso. Um tema similar está presente num "Evangelho de Filipe", citado também por Epifânio no mesmo capítulo:
“ | Eu reconheço a mim mesmo e recolho-me novamente de todos os lados; Eu não semeei filhos para o regente, mais eu arranquei suas raízes e recolhi membros que estavam espalhados no exterior; Eu reconheço quem és, pois eu sou dos reinos superiores. | ” |
— Evangelho de Filipe citado em Panarion, 26, Epifânio de Salamina. |
A referência ao trovão é remete ao texto gnóstico O Trovão, Mente Perfeita.
Em anos recentes, o uso sacramental de líquidos corporais é prática na Ordo Templi Orientis. Já o movimento gnóstico fundado por Samael Aun Weor (Gnose) defende o coitus reservatus, onde o sêmen jamais é derramado.