No mundo de hoje, Organologia chamou a atenção de milhões de pessoas em todo o mundo. Seja pelo seu impacto na sociedade, pela sua relevância histórica ou pela sua influência na cultura popular, Organologia tornou-se um tema constante de conversa hoje. À medida que exploramos os vários aspectos e facetas que compõem Organologia, torna-se evidente que a sua importância e alcance são significativos em múltiplos níveis. Neste artigo examinaremos detalhadamente os vários aspectos de Organologia e como ele deixou uma marca indelével na sociedade contemporânea.
A organologia é a disciplina que trata da descrição e da classificação de qualquer instrumento musical, tendo em conta o material empregue, a forma, a qualidade do som produzido, o timbre, o modo de execução, entre outros.
A organologia também procura classificar os instrumentos de acordo com suas semelhanças de forma física, articulação do som e timbre em “famílias” instrumentais. Por exemplo, por suas semelhanças físicas, sonoras e de articulação, os violinos, violas, violoncelos e contrabaixos são participantes da família das “cordas friccionadas” pois sua fonte sonora é a mesma — tradicionalmente, a fricção das cordas dos instrumentos com o arco — e suas tessituras diferentes se completam criando uma grande tessitura geral da família, semelhante ao que acontece em um quarteto de flautas doces (soprano, contralto, tenor e baixo).
O estudo sistemático dos instrumentos nem sempre teve a importância que tem hoje. Embora sempre tenha havido representações e descrições dos instrumentos, somente a partir do Renascimento começou a existir maior preocupação com sua identificação, havendo um consequente incremento de obras teóricas que procuraram sistematizar esse estudo. Na história da classificação dos instrumentos alguns marcos podem ser assinalados:
Em 1325, o professor francês Jean de Muris criou um sistema de classificação em que dividia os instrumentos em:
Em 1511, o sacerdote alemão Sebastian Virdung na obra “Musica Getutscht und Ausgezoge” apresentou a seguinte classificação:
Em 1619, o compositor alemão Michael Praetorius publicou a obra “Syntagmatis Musici Michaelis Praetorii C” (que veio a ser mais conhecida por Syntagma Musicum). Tornou-se uma obra de referência porque não apenas agrupava os instrumentos em famílias, mas também dava algumas indicações sobre as dimensões e construção, além de ser amplamente ilustrada.
Em 1637, o padre francês Marin Marsenne publicou a “Harmonie Universelle”, em que os instrumentos vêm agrupados em famílias, mas sem nenhuma classificação sistemática.
Em 1863, o musicólogo belga Auguste Gevaert foi um dos pioneiros da organologia moderna quando no seu “Traité général d’instrumentation” propôs uma classificação baseada numa antiga classificação indiana:
Em 1914, a dupla de etnomusicólogos, o austríaco Erich von Hornbostel e o alemão Curt Sachs, publicaram a “Systematik der Musikinstrumente”. Este sistema (que passou a ser conhecido como o sistema Hornbostel–Sachs), embora apresentasse algumas falhas, é o sistema que tem tido maior aceitação e é amplamente utilizado por músicos e musicólogos.
Em 1932, o francês André Schaeffner publicou o artigo “D’une nouvelle classification méthodique des instruments de musique”, na revista “Revue Musicale”.
Existem vários modos de classificar os instrumentos musicais. Esses diversos modos dependem do autor, do tipo de sistema utilizado, da época e também do local (ou cultura) em questão.
Por exemplo, na cultura chinesa, tradicionalmente classificam-se os instrumentos consoante o material. Um sistema datado do 1.º milénio A. C. divide os instrumentos em:
Outro exemplo, na cultura indiana, tradicionalmente classificam-se os instrumentos consoante o modo de produção sonora. Um sistema datado do século I, divide os instrumentos em:
Presentemente, nas culturas de herança greco-romana existem dois principais sistemas de classificação: a classificação tradicional e as classificações científicas. No entanto, nenhum desses dois principais sistemas pode considerado melhor porque “as classificações existentes refletem as necessidades e a cultura de quem as elabora”.
Nas culturas de herança greco-romana, tradicionalmente classificam-se os instrumentos consoante o modo em que são tocados: beliscados ou friccionados (instrumentos de corda), soprados (instrumentos de sopro), percutidos (instrumentos de percussão). Essa organização tripartida remonta desde a Grécia antiga. Embora seja um sistema antigo e bem conhecido, não é sistemático, é mais aplicável aos instrumentos da música ocidental, e não está preparado para novos instrumentos.
Os instrumentos de corda agrupam os instrumentos cujo som é produzido por uma corda esticada. O critério aqui é, portanto, o modo de produção sonora, agrupando vários métodos de ativação (por beliscamento, por fricção, e em alguns casos até por percussão). Tradicionalmente, esta classe é subdividida em critérios ora de execução (família das vielas: cordas friccionadas; famíla das guitarras: cordas beliscadas) ora morfológicos (família de instrumentos de teclado).
Os instrumentos de sopro agrupam os instrumentos cujo som é produzido mediante um sopro de ar (artificial ou infligido por um ser humano). O critério aqui já é o método de ativação. Tradicionalmente, esta classe é subdividida segundo o objeto que funciona como ativador (lábios: metais; palhetas ou aresta: madeiras).
Os instrumentos de percussão agrupam os instrumentos cujo som é produzido mediante um choque entre objetos. O critério aqui é novamente o método de ativação, independentemente do modo de produção sonora ser um corpo sólido ou uma membrana esticada. Tradicionalmente, esta classe é dividida segundo a função (rítmica: percussão de altura indefinida; melódica: percussão de altura definida).
Como pode ser observado, este sistema, para além de não ser sistemático (critérios diferentes conforme os casos) é incompleto:
As orquestras sinfónicas ocidentais vieram a estabelecer uma divisão em cinco classes, que serve mais aos propósitos da interpretação da música clássica:
O critério para esta divisão provavelmente deriva da ótica do instrumentista: um violinista, por exemplo, talvez já tenha uma noção do que é tocar guitarra; um flautista provavelmente aprenderá com facilidade a tocar o saxofone; a noção de ritmo do percussionista permite-lhe tocar qualquer instrumento com função rítmica (um tambor, um prato, em berimbau, etc.); alguém que toca piano de certeza também toca órgão; e assim por diante.
Outros autores apresentam uma listagem ligeiramente diferente:
As classificações científicas classificam os instrumentos sobretudo pelo modo de produção sonora. Têm como base principal princípios acústicos, e não conceitos morfológicos ou de execução. São sistemas recentes (quase todos eles do século XX) e tentam abarcar todos os métodos de produção sonora, cronológica e geograficamente. Embora procurem ser rigorosos e sistemáticos, não são amplamente conhecidos, e nem sempre são de fácil apreensão.
Entre 1880 e 1922, o conservador do museu belga Victor-Charles Mahillon publicou o “Catalogue déscriptif et analytique du Musée Instrumental du Conservatoire Royal de Musique de Bruxelles”. A vasta coleção de instrumentos do Conservatório Real Belga, que abrangia instrumentos de várias partes do mundo, permitiu que se aprofundasse a classificação de Gevaert em:
Em 1910, o britânico Francis W. Galpin apresentou o seu primeiro sistema em “Old English Instruments of Music: Their History and Character”. Galpin tentou que o segundo nível (a primeira subdivisão) tivesse um critério uniforme. Neste seu primeiro sistema a primeira subdivisão era consoante a existência ou não de um teclado ou mecanismo automático:
A dupla de etnomusicólogos, Erich von Hornbostel e Curt Sachs, publicaram a “Systematik der Musikinstrumente”. O método não difere muito do proposto por Mahillon. O termo “idiofone” foi usado para evitar mal-entendidos em que a palavra “autofone” podia também significar um instrumento que tocava por si só (instrumentos mecânicos).
A novidade deste sistema foi a utilização de um sistema numérico para identificar os instrumentos, a classe e as subclasses às quais pertenciam. A nível das subdivisões, o critério nem sempre é uniforme: enquanto que nos idiofones e nos membranofones a subdivisão é feita segundo o método de ativação, nos cordofones a subdivisão é feita segundo a morfologia do instrumento, e nos aerofones a subdivisão é feita conforme o ar é ativado diretamente ou através de um órgão externo. A quinta classe (eletrofones) foi adicionada em 1940 para albergar instrumentos cuja produção do som é influenciada pela tensão elétrica.
André Schaeffner em “D’une nouvelle classification méthodique des instruments de musique” classificou os instrumentos segundo um critério diferente. A principal divisão era feita através de dois grupos principais:
De notar que, nesta classificação, instrumentos tradicionalmente classificados como instrumentos de sopro ou como aerofones, tais como o acordeão e a harmónica, estão integrados na primeira classe, porque o corpo vibratório não é o ar, mas sim um material sólido (as palhetas livres).
Em 1937, Galpin apresentou o seu segundo sistema, revisto, na obra “A Textbook of European Musical Instruments”. Neste seu segundo sistema a primeira subdivisão era consoante o método de ativação: