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Peixe-boi-da-amazônia | |||||||||||||||
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Peixe-boi-da-amazônia num selo postal de 1979
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Estado de conservação | |||||||||||||||
![]() Vulnerável (IUCN 3.1) [2] | |||||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||
Trichechus inunguis[1] (Natterer, 1883) | |||||||||||||||
Distribuição geográfica | |||||||||||||||
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O peixe-boi-da-amazônia (português brasileiro) ou peixe-boi-da-amazónia (português europeu) (nome científico: Trichechus inunguis), também chamado popularmente como peixe-boi-amazônico (português brasileiro) ou peixe-boi-amazónico (português europeu),[3] guaraguá,[4] manati-da-amazônia (português brasileiro) ou manati-da-amazónia (português europeu), manati-amazônico (português brasileiro) ou manati-amazónico (português europeu), manatim-da-amazônia (português brasileiro) ou manatim-da-amazónia (português europeu)[5][6] ou manatim-amazônico (português brasileiro) ou manatim-amazónico (português europeu),[7] é um mamífero da família dos triquequídeos (Trichechidae) que é encontrado em rios e lagos da bacia do rio Amazonas.
Guaraguá é um termo genérico para se referir aos peixes-boi, mas sua origem é controversa. De acordo com o Dicionário Histórico das Palavras Portuguesas de Origem Tupi (DHPT), deriva do tupi ïgwara'gwa. Teodoro Sampaio, em O Tupi na Geografia Nacional (TupGN), alega que deriva de guara-guara no sentido de "comilão". Foi registrado em 1587 com goaragoá e em cerca de 1631 como guaragua.[8] Manati, ou sua variante manatim, tem provável origem caribe e foi difundido pelo espanhol manatí. Foi registrado em 1853 como manahi.[9] Por sua vez, seu nome científico Trichechus advém do grego e significa "ter cabelos", enquanto iunguis significa" sem unhas".[10]
Através de datação é possível afirmar que os antepassados dos animais da ordem dos sirênios tiveram sua origem no Eoceno, no qual sua distribuição e diversidade eram superiores, incluindo até mesmo indivíduos carnívoros.[11] A ordem dos sirênios (Sirenia) é atualmente representada por duas famílias com dois gêneros vivos e cinco espécies. O T. inunguis é um dos três representantes da família dos triquequídeos (Trichechidae), juntamente com o peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) e o peixe-boi-africano (Trichechus senegalensis), e foi oficialmente identificado no táxon por Johann Natterer em 1883.[12] Inicialmente os peixes-boi foram classificados por Lineu juntamente com outros mamíferos devido a seu peculiar método de locomoção e ausência de incisivos, criando assim o grupo denominado Bruta que incluía os elefantes, bichos-preguiça, pangolins e tamanduás.[11] Seus parentes mais próximos atualmente são os elefantes e hiracoides (Hyracoidea), sendo classificado como penungulado junto com eles em 1945 pelo paleontólogo George Simpson.[13]
Análises filogenéticas discordam sobre a melhor forma de representar a cladística das três espécies do gênero Trichechus, visto que alguns estudos mostram que entre as espécies de peixe-boi ainda existentes, o peixe-boi-da-amazônia representa a espécie mais basal. Sendo assim, T. manatus e T. senegalensis seriam duas espécies provavelmente derivadas do mesmo ancestral marinho. Essa mesma proposta dita que as espécies marinhas sejam monofiléticas, o que implica numa separação do peixe-boi-da-amazônia há muito tempo.[14] Da mesma forma, há especulações acerca de uma relação entre o peixe-boi-da-amazônia e o peixe-boi-africano, embora não haja sinapomorfias morfológicas apoiando tal hipótese.[15] O cladograma ilustra as relações filogenéticas entre as espécies de peixe-boi viventes.
Sirenia |
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As faixas de peso e tamanho corporal observadas do peixe-boi-da-amazônia são 7,5–346 quilos (17–763 libras) e 76,0–225 centímetros (2 pés 5,9 polegadas – 7 pés 4,6 polegadas) para machos cativos, 8,1–379 quilos (18–836 libras) e 71,0 –266 centímetros (2 pés 4,0 polegadas – 8 pés 8,7 polegadas) para fêmeas em cativeiro e 120,0–270 quilos (264,6–595,2 libras) e 162,0–230 centímetros (5 pés 3,8 polegadas – 7 pés 6,6 polegadas) para peixes-boi de vida livre, respectivamente. O peso real máximo do peixe-boi-da-amazônia relatado é de 379 quilos (836 libras). Os bezerros da espécie nascem pesando 10–15 quilos (22–33 libras) e 85–105 centímetros (33–41 polegadas) de comprimento.[16] Aumenta em comprimento aproximadamente 1,6-2,0 milímetros por dia. Esse comprimento é medido ao longo da curvatura do corpo, de modo que o comprimento absoluto pode diferir entre os indivíduos. Quando bezerros, ganham em média um quilo por semana.[17]
Os peixes-boi-da-amazônia são grandes mamíferos de forma cilíndrica, com membros anteriores modificados em nadadeiras, sem membros posteriores livres e a parte traseira do corpo na forma de um remo achatado, arredondado e horizontal. As nadadeiras flexíveis são usadas para ajudar no movimento sobre o fundo, arranhar, tocar e até mesmo abraçar outros peixes-boi, mover comida e limpar a boca.[18] Dentre suas características marcantes está a ausência de unhas nas nadadeiras peitorais (membros anteriores),[19] a presença de duas mamas próximas às axilas e manchas brancas na região ventral da maioria dos indivíduos adultos, mesmo tendo a pele variando predominantemente de cinza a preto.[20][21] Sua pele é ondeada e enrugada, com dobras profundas ao redor da cabeça, na junção das nadadeiras e na base da cauda, a qual também possui espessura entre oito e 16 milímetros coberta por pelos finos, sendo mais numerosos nas nadadeiras. Tem lábios de textura grossa e com numerosas cerdas queratinizadas, mais rígidas na região interna dos lábios e direcionadas ventralmente.[22][23][24] O lábio superior é modificado numa grande superfície eriçada, profundamente dividida. Pode mover cada lábio independentemente durante a alimentação.[18]
Tal espécie animal é classificada como selenodonte, tendo em vista a fórmula dental , sendo seus dentes molares paralelos à margem da língua, característico de herbívoros, à maceração de fibras duras.[23] Ademais, ao nascerem possuem incisivos que permanecem submersos na gengiva, logo não são funcionais. Tendo em vista os dentes molares, são continuamente substituídos (polifiodontes) horizontalmente da porção caudal da mandíbula à porção rostral ao longo da vida, uma característica única entre os mamíferos. Apenas o parente vivo mais próximo dos sirênios, os elefantes, mostram característica semelhante de substituição de dentes, mas os elefantes têm um conjunto limitado desses dentes de substituição. À medida que os dentes migram rostralmente no peixe-boi, as raízes serão reabsorvidas e o esmalte fino se desgastará até que o dente finalmente caia. Chamados de dentes da bochecha, a diferenciação dos dentes do peixe-boi em molares e pré-molares não ocorreu, e os peixes-boi também não possuem incisivos ou caninos. Esses dentes migram a uma taxa de cerca de 1–2 milímetros por mês, com base nas taxas de desgaste e mastigação.[25] Além disso, as espécies do gênero Trichechus contam com aproximadamente cinquenta vértebras agrupadas em: seis cervicais, dezessete torácicas, três lombares e vinte e quatro caudais.[23] Ossos pélvicos são ausentes.[22]
A escápula do peixe-boi-da-amazônia é estreita, formando a cintura peitoral,[20] o esterno constitui-se de um único osso e por um processo lateral está dirigido para trás.[23] Compondo o membro anterior, ou seja, a nadadeira peitoral, está o úmero que nesses animais é fino e leve,[20] ao contrário de outras espécies de peixe-boi, em que ele é pesado, tendo 22,3 centímetros de comprimento. Conectados a esses ossos, estão outros curtos e quase que dos mesmo tamanho, o rádio e a ulna, com os quais quatro e um elemento que constituem o carpo estão articulados, respectivamente.[23] Conectados ao carpo estão cinco metacarpos, que diferentemente de outras espécies do gênero Trichechus, são mais compridas e como dito anteriormente, em suas extremidades as unhas estão ausentes. Seu crânio na fase adulta podem medir 360 milímetro. Os ossos nasais tem forma de discos losângicos medindo de três a seis milímetros de grossura, estendidos posteriormente, enquanto que os ossos temporais são direcionados lateralmente.[20] Algumas diferenças entre o crânio do peixe-boi-da-amazônia e do peixe-boi-africano podem ser citadas: o forame parietal está ausente no peixe-boi-da-amazônia, o qual também possui uma sutura sagital pouco desenvolvida e o forame magno estreito, quando comparado ao peixe-boi-africano.[23]
O canal nasal e a laringe formam um tubo contínuo até os pulmões, os quais são longos e cilíndricos, enquanto que o diafragma estende-se horizontalmente atrás dos rins, próximo a terceira costela indo até a pelve.[23][22] Cabe também dizer que o coração, pulmões e rins se encontram numa câmara superior, e numa inferior a bexiga, fígado, estômago e intestino, o qual tem aproximadamente 15 metros.[22] A temperatura corporal é instável variando entre 33 e 37 ºC.[26] Com relação a genética, seu cariótipo é constituído de cinquenta e seis cromossomos.[20] O peixe-boi-da-amazônia apresenta diferenças entre o macho e a fêmea, considerando sua forma corporal, exceto em seu tamanho.[17] Nas fêmeas a abertura urogenital se encontra na região ventral, próxima e anterior ao ânus. Essa abertura está ligada à vagina por uma estrutura denominada vestíbulo, canal conectado ao trato reprodutivo e urinário. Tanto à vagina quanto o vestíbulo possuem dobras que aumentam o tamanho dessas estruturas durante o acasalamento e, após a remoção do pênis, diminuem, controlando a entrada de água no útero.[27] Os machos possuem testículos achatados, estendendo-se da massa muscular pélvica até a base do abdome, não alterando de tamanho, sendo a cópula dependente da glande.[22]
Além disso, o peixe-boi-da-amazônia tem um grau muito pequeno de deflexão rostral (30,4°), que pode ser usado como uma indicação de onde na coluna d'água o animal se alimenta. Um pequeno grau de deflexão significa que a extremidade do focinho é mais reta em relação à porção caudal da mandíbula. Animais com um maior grau de deflexão, como o dugongo (Dugong dugon) em cerca de 70° de deflexão, são espécies mais bentônicas, alimentam-se do fundo do mar e têm focinhos que apontam quase completamente para o ventre. Apenas o peixe-boi-africado tem deflexão rostral menor de cerca de 25,8°. Acredita-se que isso maximize a eficiência da alimentação. Um pequeno grau de deflexão rostral permite que os peixes-boi-da-amazônia se alimentem mais efetivamente na superfície da água, onde grande parte de sua comida é encontrada.[28]
O peixe-boi-da-amazônia é o único sirênio que vive exclusivamente em habitat de água doce.[16] A espécie depende de mudanças na circulação periférica para seu principal mecanismo de termorregulação, usando esfíncteres para desviar o fluxo sanguíneo de áreas do corpo em contato próximo com a água. Eles também contam com gordura subcutânea para reduzir a perda de calor.[26] Têm narinas, não respiradouros como outros mamíferos aquáticos, que fecham quando estão debaixo d'água para manter a água fora e abrem quando estão acima da água para respirar.[29] Embora possam permanecer debaixo d'água por longos períodos, é comum subir à superfície para respirar a cada cinco minutos.[30][31] A submersão mais longa documentada de um espécime em cativeiro é de 14 minutos.[32]
Os peixes-boi-da-amazônia fazem movimentos sazonais sincronizados com o regime de cheias da bacia do rio Amazonas. Eles são encontrados em florestas inundadas e prados durante a estação das cheias, quando a comida é abundante.[33] Tem o menor grau de deflexão rostral (25° a 41°) entre os sirênios, uma adaptação para se alimentar mais perto da superfície da água.[34] É noturno e diurno e vive sua vida quase inteiramente debaixo d'água. Apenas suas narinas se projetam da superfície da água enquanto procura vegetação no fundo de rios e lagos.[35] Os peixes-boi da Amazônia e das Índias Ocidentais são os únicos peixes-boi conhecidos por vocalizar. Foram observados vocalizando sozinhos e com outros indivíduos, particularmente entre fêmeas e seus filhotes.[36]
Há uma carência de informações em relação ao comportamento e do peixe-boi-da-amazônia em vida livre. Isso pode ser atribuído às águas turvas em que vivem, mas principalmente a seus hábitos crípticos e arredios.[17] Apesar dos raros registros, são considerados animais com pouca interação entre si, com exceção das épocas reprodutivas e do cuidado parental duradouro entre mãe e filhote (em torno de dois anos), sendo que a mãe pode carregar o filhote nas costas ou abraçado junto ao corpo.[37] Embora as informações sejam insuficientes, nas áreas de forrageamento já foram avistados grupos de quatro a oito indivíduos, como também um único espécime.[38] Em cativeiro há relatos de que indivíduos foram vistos se abraçando, nadando e circulando pelo tanque juntos, além de se envolvendo em brincadeiras sexuais.[37][20]
O peixe-boi-da-amazônia se reproduz sazonalmente, tendo longo período reprodutivo que está intimamente relacionado às estações chuvosas da região amazônica. Quando o nível da água dos rios se eleva, inicia-se a cópula, entre os meses de dezembro e junho,[39][40] com cerca de 63% entre fevereiro e maio, durante uma época de aumento do nível dos rios em sua região natal.[41] Tal comportamento ocorre em águas profundas, quando o macho bate sua cauda na região genital da fêmea, como sinal para que relaxe os músculos e permita a introdução do pênis, no momento em que ela está mais receptiva, o qual dura em média de 20 a 27 dias, conforme estudos realizados em cativeiro.[42] De maneira geral, o período de gestação dos sirênios é de aproximadamente 12 a 14 meses,[43] no entanto, para o peixe-boi-da-amazônia estima-se que seu período seja de 11 a 12 meses, gerando um filhote entre os meses de fevereiro e maio, tendo baixa taxa reprodutiva.[42][41]
Ademais, as cheias na bacia Amazônica proporcionam abundância de vegetais aquáticos e semiaquáticos, tendo em vista a importância nutricional às fêmeas que tem de investir alta quantidade de energia durante a gestação e também no período de lactação, à criação de seu filhote, que serão mantidos até o período com baixo nível de água nos rios.[41] Embora a maturação sexual ocorra por volta de cinco a 10 anos, a relação mãe-filho perdura por no mínimo dois anos, permanecendo até um próximo nascimento, sendo a única interação duradoura entre os indivíduos, tendo em vista o seu hábito relativamente solitário.[22][44] Dois indivíduos viveram 12,5 anos em cativeiro.[18] Indivíduos selvagens vivem cerca de 30 anos.[35]
O peixe-boi-da-amazônia é um herbívoro não ruminante, que alimenta-se de gramíneas predominantemente aquáticas, principalmente emergentes, podendo consumir em pequenas quantidades algumas espécies terrestres, presentes nas margens dos rios. Sua alimentação é mais restrita e seletiva em épocas de cheia, porém se torna mais diversa com a menor disponibilidade dos alimentos preferenciais.[39] Se alimenta de uma variedade de macrófitas aquáticas, incluindo aroides (especialmente Pistia, também conhecida como "alface d'água"[35][45]), gramíneas, Utricularia, antóceros, ninfeáceas (Nymphaeaceae) e, particularmente, jacintos-de-água (Pontederia crassipes).[46] Também são conhecidos por comer frutos de palmeira que caem na água.[35] Segundo análises estomacais feitas em 1981, 96% das amostras continham a gramínea Paspalum repens e a macrófita canarana capim-angola (Echinochloa polystachya), sugerindo que estão entre as mais consumidas.[47]
A quantidade vegetal ingerida corresponde a cerca de 8% de seu peso corporal por dia, sendo que 45 a 70% do que é consumido é absorvido pelo organismo para transformação em energia. Possui também importante função na ciclagem de nutrientes do ecossistema, visto que seus excrementos contém compostos nitrogenados em abundância, o que auxilia na manutenção da produção primária, como o desenvolvimento de fitoplânctons e crescimento de macrófitas, por exemplo.[39][40] Por manter uma dieta herbívora, tem processo digestivo pós-gástrico semelhante ao do cavalo.[34] Durante a estação seca de julho a agosto, quando os níveis de água começam a cair, algumas populações ficam restritas às partes profundas de grandes lagos, onde geralmente permanecem até o final da estação seca em março. Acredita-se que jejue durante esse período, suas grandes reservas de gordura e baixas taxas metabólicas – apenas 36% da taxa metabólica normal dos mamíferos placentários – permitindo que sobrevivam por até sete meses com pouca ou nenhuma comida.[33]
Em 1977, a contagem da população do peixe-boi-da-amazônia foi estimada em cerca de 10 mil. A partir de agora, a contagem total da população é indeterminada, no entanto, a tendência da população parece estar diminuindo. Estão distribuídos principalmente por toda a bacia do Amazonas no norte da América do Sul, desde a ilha de Marajó, no Brasil, até a Colômbia, Peru e Equador. São ocasionalmente encontrados sobrepostos ao peixe-boi-marinho ao longo da costa do Brasil.[33] Ocorre na maior parte da drenagem do Amazonas, desde as cabeceiras, na Colômbia, Equador e Peru até a foz do Amazonas (perto da ilha de Marajó) no Brasil, em cerca de sete milhões de quilômetros quadrados. No entanto, sua distribuição é irregular, concentrando-se em áreas de floresta alagada rica em nutrientes, que abrange cerca de 300 mil quilômetros quadrados; também são encontrados em águas calmas e rasas, longe de assentamentos humanos.[2]
É completamente aquático e nunca sai da água.[33] É o único peixe-boi que ocorre exclusivamente em ambientes de água doce. Prefere lagos remansos, arcos marginais e lagoas com profundas conexões com grandes rios e abundante vegetação aquática.[48] São principalmente solitários, mas às vezes se reúnem em pequenos grupos de até oito indivíduos.[44] Se envolvem em longos movimentos sazonais, movendo-se de áreas alagadas durante a estação chuvosa para corpos d'água profundos durante a estação seca.[2] Predadores naturais incluem onças-pintadas (Panthera onca), tubarões e crocodilos.[35]
Apesar da alta taxa de preservação que se encontra atualmente no bioma amazônico, este ambiente passou por apropriação de seus recursos naturais de forma insustentável, impostas por políticas públicas inadequadas e ultrapassadas, característicos da época.[49] Nessa significável apropriação e uso de diversos recursos pertencentes à Amazônia, também se encontra a interação com diferentes tipos de animais silvestres ali presentes.[50] De início, por volta de 1850, o peixe-boi-da-amazônia fora utilizado pelos colonos para fins alimentares, tendo valorização formidável de sua carne cozida em sua própria banha, que é chamada de mixira, seguido do seu couro. Quase um século depois, por volta de 1930, o preço do couro do peixe-boi-da-amazônia fora mais alto por uma faixa de tempo pela intensa utilização desse recurso nas indústrias pelo Brasil e mundo, auxiliando na confecção de produtos como exemplo de polias, mangueiras, correias de transmissão, entre outros fins.[38]
Na década de 1960, mais especificamente em 1967, fora criada a Lei de Proteção à Fauna Silvestre no Brasil (Lei N.° 5.197) que, em outras palavras, proibia, majoritariamente, a caça, pesca e venda de animais silvestres naturais do Brasil, sendo considerada a primeira lei de proteção efetiva ao peixe-boi-da-amazônia por atingi-lo diretamente. Nas décadas posteriores foi redobrada a atenção em relação ao peixe-boi-da-amazônia por conta do decaimento no número de indivíduos na bacia amazônica, sendo em 1982 considerada espécie vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN) em sua Lista Vermelha. Já ameaçado de extinção, o Brasil decretou mais leis de proteção à fauna nativa na década de 1990.[50]
O peixe-boi-da-amazônia possui enorme importância cultural na região, não só por ser fonte de alimento local que perpetuou muitas gerações da população ribeirinha e que hoje vem sendo estimulada a não consumir mais esse tipo de carne, mas também participa de muitos mitos e lendas na Amazônia sendo a sua existência importante à etnoconservação desses aspectos regionalmente.[51] Muitas dessas lendas remetem ao surgimento do peixe-boi-da-amazônia. Numa delas, denominada "A festa da moça nova", se destaca como ritual de iniciação feminina que acontece quando a menina menstrua pela primeira vez:[52] Certa vez, numa dessas festas, o pajé da tribo desconfiou que a menina já estava namorando um rapaz da tribo e como castigo, durante a festa, mandou que ambos mergulhassem no rio e jogou sobre eles duas talas de canarana enfeitiçadas, e quando o casal emergiu já haviam se transformado em peixes-boi.[51] Dentre dezenas de outras crenças que circulam na região, se encontra a crença de que a carne do peixe-boi possui poderes afrodisíacos e, além disso, capaz de curar diversas enfermidades que atingem o ser humano, sendo bastante vendida em feiras regionais.[51]
No planeta, habitou-se 36 espécies registradas de sirênios,[10] porém atualmente existem apenas quatro espécies (consideradas vulneráveis de extinção pela UICN), incluindo o peixe-boi-da-amazônia.[2] Desde 1542, a espécie tem sofrido com a caça na Amazônia.[53] Inicialmente, sua carne (mixira) era destinada somente para subsistência das tribos indígenas presentes na região. No entanto, com a chegada da indústria de couro (1935 a 1954), a espécie sofreu com caças descontroladas, alcançando em torno de quatro a sete mil peixes-boi mortos por ano. Estima-se que mais de 140 mil peixes-boi foram mortos.[2] O couro era utilizado como material para produção de couro mais resistente.[54] As caças deixaram de ser frequente a partir de 1954, quando o couro sintético começou a chegar no mercado. As caças, então, deixaram de ser para extração de couro e voltaram para subsistência.[17]
O consumo de mixira é comum na Amazônia, sendo a principal fonte de proteína da população ribeirinha. Fêmeas prenhas ou paridas são alvos preferenciais dos caçadores pois fornecem, além do filhote, maior quantidade banha para consumo. Essa prática é uma das ameaças enfrentadas pela espécie nas últimas décadas.[10] Em 1986, estimou-se que os níveis de caça no Equador eram insustentáveis e que ela desapareceria deste país dentro de 10 a 15 anos.[46] Apesar das leis contra a caça em vigor, a caça continua ocorrendo mesmo em áreas protegidas. Os arpões tradicionais são a arma mais comum usada contra os peixes-boi, mas no Equador também são conhecidos por serem capturados em armadilhas para peixes Arapaima. Entre 2011 e 2015, 195 peixes-boi foram mortos para consumo numa única região do Brasil. Em outra região, 460 foram mortos numa área protegida entre 2004 e 2014.[2] No Peru, experimentaram grande parte de seu declínio devido à caça por populações humanas para obtenção de carne, gordura, pele e outros materiais. Essa caça é realizada com arpões, redes de emalhar e armadilhas. Grande parte dessa caça ocorre nos lagos e riachos próximos à Reserva Nacional Pacaia-Samiria, no nordeste do país.[32]
Outra ameaça contra os peixes-boi é a destruição e degradação ambiental, causadas pelo aumento de tráfegos de grandes cargueiros e pelas atividades petroquímicas (extração e transporte de óleo e gás).[2] O setor hidroviário está sendo bastante intensificado em decorrência de aumento da ocupação humana e, com isso, maior procura pela proteína animal. Além disso, existem outras ameaças que também afetam diretamente o peixe-boi: atividades impactantes das mineradoras e do garimpo (a liberação indiscriminada de mercúrio); a contaminação por agrotóxicos e fertilizantes; afogamento acidental em redes de pesca comercial; degradação da vegetação pela erosão do solo resultante do desmatamento; e os programas agropecuários em larga escala, como o plantio de soja na Amazônia e a criação de búfalos em áreas de várzea. Em síntese, as ameaças contra o peixe-boi-da-amazônia são: caça indiscriminada e comercial, caça de subsistência, alteração e destruição dos habitats, emalhes, colisões com embarcações, ingestão de lixo, poluição sonora, mudanças climáticas, doenças e risco de problemas genético.[10][33]
Não há planos nacionais de manejo do peixe-boi-da-amazônia, exceto na Colômbia. Em 2008, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) cuidava de 34 peixes-boi cativos e o Centro de Preservação e Pesquisa de Mamíferos Aquáticos (CPPMA) cuidava de 31.[2] O peixe-boi é protegido pela lei peruana desde 1973, por meio do Decreto Supremo 934-73-AG, que proíbe a caça e o uso comercial.[32] Em 2007, foi classificado como em perigo na Lista de espécies de flora e fauna ameaçadas de extinção do Estado do Pará;[55] como vulnerável na Portaria MMA N.º 444 de 17 de dezembro de 2014;[56] em 2018, como vulnerável no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio);[57] e em 2022, como vulnerável no anexo dois (mamíferos) da Lista Oficial da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção da Portaria MMA N.º 148, de 7 de junho de 2022.[58][59] Em 2013, foi incluído no anexo I da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES), que trata de espécies ameaçadas de extinção.[60]
Há várias instituições ligadas à conservação de mamíferos aquáticos que possuem iniciativas de cuidados de filhotes órfãos em decorrência de caça ilegal. O Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA/INPA), por exemplo, desenvolveu leite com fórmula específica para esses filhotes. Outras instituições além do LMA, como Centro de Pesquisas e Preservação dos Mamíferos Aquáticos (CPPMA/Manaus Energia S.A.) e Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA/ICMBio), atuaram no resgate e reabilitação de filhotes órfãos, somando ao todo 70 indivíduos abrigados. O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) também teve essa iniciativa, porém abrigou os órfãos em tanque flutuante no ambiente natural, com a participação da comunidade local. Quando os indivíduos chegam à fase de subadultos, são reintroduzidos na natureza; como em 2007, o CMA realizou soltura de um macho e uma fêmea subadultos no entorno de Santarém (Pará), a fêmea foi monitorada. Outro caso é a reintrodução monitorada de dois machos pelo INPA (Instituto de Pesquisa Amazônica) em 2008.[10] O caso de maior destaque pelo número de indivíduos soltos aconteceu em 2019, graças ao CMA, INPA e AMPA (Associação Amigos do Peixe-Boi). Essa soltura foi feita com 12 indivíduos na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Pigaçu-Purus, onde teve recepção da comunidade local.[61][62]
Além da reabilitação de filhotes, outra medida que é tomada em prol à conservação dos peixes-boi é a parceria entre centros de pesquisa e unidades de conservação (UCs). Centros de pesquisas (como CMA, LMA e outros) são essenciais porque fornecem informações sobre peixes-boi-da-Amazônia (consideradas espécies-bandeira em certas UCs), e as unidades de conservação, por sua vez, utilizam esses conhecimentos aplicando nos manejos necessários para a conservação desses animais. A Reserva Extrativista de Tapajós-Arapiuns, por exemplo, é uma área que, graças à sua parceria com CMA, é relevante na preservação do peixe-boi-da-amazônia. O apoio da comunidade local é a parte mais importante do processo, como aponta Luna e colaboradores:[63][10]
“ | A comunidade de Anumã, localizada à margem oeste do rio Tapajós, aderiu à causa de maneira plena, graças ao empenho da equipe coordenada pelo CMA/ICMBio, que conseguiu sensibilizar a comunidade de maneira a envolvê-la no processo. Hoje todos em Anumã sabem a importância de preservar a natureza, colaboram com a unidade de conservação e com as atividades do CMA/ICMBio. A comunidade é a parte mais importante do processo de gestão. | ” |