Solus Christus

Hoje vamos nos aprofundar no fascinante mundo de Solus Christus, um tema que tem chamado a atenção de especialistas e entusiastas. Desde as suas origens até ao seu impacto hoje, Solus Christus tem sido objeto de inúmeras pesquisas e debates. Com uma história que remonta a séculos, Solus Christus evoluiu e adaptou-se às novas necessidades da sociedade. Neste artigo, exploraremos as muitas facetas de Solus Christus, desde seus aspectos mais históricos até suas implicações no mundo moderno. Juntamente com especialistas na área, examinaremos suas principais características, desafios e oportunidades, proporcionando uma visão profunda e completa de Solus Christus e sua relevância no contexto atual.

Solus Christus, (às vezes usado na sua forma ablativa Solo Christo), é um dos cinco solas propostos no século XX para retratar os ideais protestantes que resumiriam as crenças fundamentais do cristianismo. Solus Christus é o ensino de que Cristo é o único mediador entre Deus e o homem, e que não há salvação por meio de nenhum outro.

Conceito

Esta expressão latina refere-se ao termo: "salvação somente por Cristo". Embora os reformadores não utilizassem esse, termo, o teólogo neo-ortodoxo Emil Brunner ao comentar o sistema teológico de Karl Barth acrescentou Christus solus aos outros "solas"[1]. Os protestantes rejeitam os dogmas relativos ao papa como representante de Cristo e chefe da Igreja sobre a terra, rejeitam o conceito de mérito por obras e a ideia católica de um tesouro vindouro por causa das boas obras. Teólogos protestantes acreditam que a salvação pelas obras é uma negação do sacrifício de Cristo pela salvação de todos os que crerem na sua Palavra, Ele é o único mediador entre Deus e os homens.[2]


A Interpretação Protestante de Solus Christus, ou "apenas Cristo", exclui a classe sacerdotal como necessária para os sacramentos e qualquer outros mediadores entre Deus e o homem. Consequentemente, este princípio rejeita o sacerdotalismo, a crença de que não há sacramentos na igreja sem os serviços de padres ordenados por sucessão apostólica. Tal interpretação viola a função dos ministros de Deus devidamente organizados por Cristo como podemos ler na carta de 1 Coríntios 12 escrita pelo Apóstolo São Paulo que diz:

28 Por isso, na igreja Deus colocou em primeiro lugar, apóstolos; em segundo, profetas; em terceiro, ensinadores; e depois os que fazem milagres, os que têm o dom de curar, outros com o dom de ajudar o semelhante, outros que sabem administrar a igreja, e outros ainda que falam línguas que nunca aprenderam.

29 Deverão ser todos apóstolos? Serão todos pregadores ou profetas? Tornar-se-ão todos ensinadores? Poderão todos fazer milagres? 30 Podem todos curar os doentes? Dá-nos Deus a todos a capacidade de falar línguas que não conhecemos? Pode qualquer pessoa interpretar o que aqueles que têm esse dom dizem? Claro que não. 31 Contudo, esforcem-se por serem capacitados com os dons mais importantes.

Mas deixem-me mostar-vos o caminho mais excelente!

Já a teologia protestante afirma o mesmo que a católica, que a Escritura e sua doutrina sobre a graça e fé enfatizam que a salvação é solus Christus, “somente por Cristo”, isto é, Cristo é o único Salvador (Atos 4:12). B.B. Warfield escreveu: “O poder salvador da fé reside, portanto, não em si mesma, mas repousa no Salvador Todo Poderoso”. Embora a teologia da Igreja Católica contida no Código de Direito Canônico e no Catecismo da Igreja Católica jamais negou em sua essência a centralidade de Cristo, isso também vem a ser fundamento da fé protestante. Podemos ver que Martinho Lutero, mesmo sendo ele um crente na intercessão dos santos e da mãe de Jesus, disse que Jesus Cristo é o “centro e a circunferência da Bíblia” — isso significa que quem ele é e o que ele fez em sua morte e ressurreição são o conteúdo fundamental da Escritura, independente das diferenças entre as doutrinas Protestantes e Católica. A existência dos intercessores celestes não remove ou substitui a Única Salvação em Cristo, mas sim ajunta, segundo a escritura bíblica de Mateus 12:30 onde o próprio Jesus Cristo disse: “Quem não é por mim é contra mim; quem não ajunta comigo, espalha.”. Ulrico Zuínglio disse: “Cristo é o Cabeça de todos os crentes, os quais são o seu corpo e, sem ele, o corpo está morto”, assim como o Catecismo da Igreja Católica diz:

“Lendo o "Catecismo da Igreja Católica", pode-se captar a maravilhosa unidade do mistério de Deus, do seu desígnio de salvação, bem como a centralidade de Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, enviado pelo Pai, feito homem no seio da Santíssima Virgem Maria por obra do Espírito Santo, para ser o nosso Salvador. Morto e ressuscitado, ele está sempre presente na sua Igreja, particularmente nos sacramentos; ele é a fonte da fé, o modelo do agir cristão e o Mestre da nossa oração.”

Já Sem Cristo, nada podemos fazer; nele, podemos fazer todas as coisas (João 15:5; Filipenses 4:13). Somente Cristo pode trazer salvação. Paulo deixa claro em Romanos 1-2 que, embora haja uma auto-manifestação de Deus além da sua obra salvadora em Cristo, nenhuma porção de teologia natural pode unir Deus e o homem. A união com Cristo é o único caminho da salvação e nisso, Católicos e Protestantes se concordam.

Solus Christus e os três ofícios

A concepção dos três ofícios de Cristo foi formulada por Eusébio de Cesareia[3]. Mais tarde, tal doutrina seria recepcionada pelos reformadores protestantes. A Confissão Batista de Londres de 1689 formula a doutrina que posteriormente seria reconhecida como Solus Christus da seguinte forma: “Cristo, e somente Cristo, está apto a ser o mediador entre Deus e o homem. Ele é o profeta, sacerdote e rei da igreja de Deus” (8.9). Observemos mais detalhadamente esses três ofícios.

Cristo, o Profeta

Cristo é o Profeta que instrui a humanidade nas coisas de Deus, a fim de curar a cegueira e ignorância humanas. O Catecismo de Heidelberg o chama de “nosso principal Profeta e Mestre, que nos revelou totalmente o conselho secreto e a vontade de Deus a respeito da nossa redenção” (A. 31). “O Senhor, teu Deus”, Moisés declarou em Deuteronômio 18:15, “te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás”. Ele é o Filho de Deus, e Deus exige que nós o escutemos (Mateus 17:5).

Como o Profeta, Jesus Cristo seria o único que pode revelar o que Deus tem planejado na história “desde a fundação do mundo”, e que pode ensinar e manifestar o real significado das “escrituras dos profetas” (o Antigo Testamento, ver Romanos 16:25-26).

Cristo, o Sacerdote

Cristo é também o Sacerdote—nosso extremamente necessário Sumo Sacerdote que, como diz o Catecismo de Heidelberg: “pelo sacrifício de Seu corpo, nos redimiu, e faz contínua intercessão junto ao Pai por nós” (A. 31). Nas palavras da Confissão Batista de Londres de 1689 “por causa do nosso afastamento de Deus e da imperfeição de nossos melhores serviços, precisamos de seu ofício sacerdotal para nos reconciliar com Deus e nos tornar aceitáveis por ele” (8.10).

A salvação está somente em Jesus Cristo, porque há duas condições que, não importa o quanto nos esforcemos, nunca poderemos satisfazer. No entanto, elas devem ser cumpridas se estamos para ser salvos. A primeira é satisfazer a justiça de Deus pela obediência à lei. A segunda é pagar o preço de nossos pecados. Nós não podemos cumprir nenhuma dessas condições, mas Cristo as cumpriu perfeitamente. Romanos 5:19 diz: “ por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”. Romanos 5:10 diz: “nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho”.

O sacrifício de Jesus ocorreu apenas uma vez, mas ocupa o papel grande Sumo Sacerdote, aquele através do qual toda a oração e louvor são feitos aceitáveis a Deus. Nos lugares celestiais, Jesus Cristo continuaria sendo constante Intercessor e Advogado (Romanos 8:34; 1 João 2:1). Essa percepção fundamenta-se em Paulo que diz que a glória deve ser dada a Deus “por meio de Jesus Cristo pelos séculos dos séculos” (Romanos 16:27).

Cristo, o Rei

Finalmente, o Solus Christus implica no ofício de Cristo como o Rei que reina sobre todas as coisas. Na teologia católica e protestante, isso é incontestavel, Jesus Cristo reina sobre sua Igreja por meio de seu Espírito Santo (Atos 2:30-33). Ele soberanamente dá o arrependimento ao impenitente e concede perdão ao culpado (Atos 5:31). Cristo é “o nosso Rei eterno que nos governa por sua Palavra e Espírito, e que defende e preserva-nos no gozo da salvação que ele adquiriu para nós” (O Catecismo de Heidelberg, P&R.31), assim como "o Espírito Santo chama incessantemente a Igreja de Deus, Corpo de Cristo, peregrina rumo à luz sem sombras do Reino!" (O Catecismo da Igreja Católica, ETV.37) Como o Herdeiro real da nova criação, ele levaria humanidade redimida a um reino de eterna luz e amor.

Neste sentido, disse João Calvino: “Nós podemos passar pacientemente por esta vida com sua miséria, frieza, desprezo, injúrias e outros problemas—satisfeitos com uma coisa: que o nosso Rei nunca nos deixará desamparados, mas suprirá as nossas necessidades, até que, ao terminar nossa luta, sejamos chamados para o triunfo” e disse o Papa Francisco: "O cristão é testemunha, não duma teoria, mas duma Pessoa; Cristo ressuscitado, vivo e único Salvador de todos."

  1. Brunner, Emil (1963). Dogmatics: Volume III - The Christian Doctrine of the Church, Faith & the Consummation. Philadelphia: Westminster Press 
  2. https://ministeriofiel.com.br/artigos/solus-christus/
  3. Eusébio de Cesareia. Hist. eccl. 1.3.8.