Corpo (matemática)

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Em matemática, um corpo é um anel comutativo com unidade em que todo elemento diferente de 0 possui um elemento inverso com relação à multiplicação.

Definição formal

Mais formalmente, um anel comutativo F {\displaystyle F} com unidade é chamado de corpo se:

( ∀ x ∈ F ∖ { 0 } ) ( ∃ y ∈ F ) : x . y = 1. {\displaystyle (\forall x\in F\setminus \{0\})(\exists y\in F):x.y=1.}

Resulta da comutatividade de F {\displaystyle F} que o y {\displaystyle y} da definição anterior também satisfaz a condição y . x = 1. {\displaystyle y.x=1.} Por outro lado, só pode haver um único y {\displaystyle y} naquelas condições. De facto, se y {\displaystyle y} e y ′ {\displaystyle y'} forem tais que x . y = x . y ′ = 1 , {\displaystyle x.y=x.y'=1,} então

y = y .1 = y . ( x . y ′ ) = ( y . x ) . y ′ = 1. y ′ = y ′ . {\displaystyle y=y.1=y.(x.y')=(y.x).y'=1.y'=y'.}

Este elemento y {\displaystyle y} designa-se por inverso de x {\displaystyle x} e representa-se por x − 1 . {\displaystyle x^{-1}.}

Um corpo F {\displaystyle F} não tem divisores de zero. Efectivamente, se x {\displaystyle x} e y {\displaystyle y} forem dois elementos de F {\displaystyle F} diferentes de 0 {\displaystyle 0} então x . y {\displaystyle x.y}  ≠  0 , {\displaystyle 0,} pois

x − 1 . ( x . y ) = ( x − 1 . x ) . y = 1. y = y {\displaystyle x^{-1}.(x.y)=(x^{-1}.x).y=1.y=y}  ≠ 0.

Mas se se tivesse x . y = 0 , {\displaystyle x.y=0,} então ter-se-ia x − 1 . ( x . y ) = 0. {\displaystyle x^{-1}.(x.y)=0.}

Exemplos e contra-exemplos de Corpos

Exemplos

Z p = { 0 , 1 , 2 , … , p − 1 } {\displaystyle \mathbb {Z} _{p}=\{0,1,2,\ldots ,p-1\}}

A adição e a multiplicação são assim definidas: se se quer adicionar (respectivamente multiplicar) em Z p , {\displaystyle \mathbb {Z} _{p},} então a + b {\displaystyle a+b} (respectivamente a . b {\displaystyle a.b} ) é o resto da divisão por p {\displaystyle p} da adição (respectivamente multiplicação) dos números inteiros a {\displaystyle a} e b . {\displaystyle b.}

< H : a + b 2 , + , ⋅ {\displaystyle {a+b{\sqrt {2}}},+,\cdot } >

Contra-exemplos

Característica

Dado um corpo F , {\displaystyle F,} considere-se a sucessão 1 , {\displaystyle 1,} 1 + 1 , {\displaystyle 1+1,} 1 + 1 + 1 , {\displaystyle 1+1+1,} … Há duas possibilidades.

O corpo dos números complexos e os seus subcorpos têm característica 0 ; {\displaystyle 0;} para cada número primo p , {\displaystyle p,} o corpo Zp tem característica p . {\displaystyle p.}

Se um corpo tem característica p > 0 , {\displaystyle p>0,} então p {\displaystyle p} é um número primo. De facto, a função

f : N ⟶ F n ↦ 1 + 1 + ⋯ + 1 ⏞ n vezes {\displaystyle {\begin{array}{rccc}f\colon &\mathbb {N} &\longrightarrow &F\\&n&\mapsto &{\stackrel {n{\text{vezes}}}{\overbrace {1+1+\cdots +1} }}\end{array}}}

é tal que se m {\displaystyle m} e n {\displaystyle n} são números naturais, então f ( m . n ) = f ( m ) . f ( n ) . {\displaystyle f(m.n)=f(m).f(n).} Por outro lado, se F {\displaystyle F} tiver característica p , {\displaystyle p,} então f ( p ) = 0. {\displaystyle f(p)=0.} Se p {\displaystyle p} não fosse primo, tinha-se p = m . n , {\displaystyle p=m.n,} com m {\displaystyle m} e n {\displaystyle n} números naturais menores do que p , {\displaystyle p,} pelo que 0 = f ( p ) = f ( m . n ) = f ( m ) . f ( n ) . {\displaystyle 0=f(p)=f(m.n)=f(m).f(n).} Mas então f ( m ) = 0 {\displaystyle f(m)=0} ou f ( n ) = 0. {\displaystyle f(n)=0.} Isto é impossível pois, por definição, p {\displaystyle p} é o menor número natural tal que f ( p ) = 0. {\displaystyle f(p)=0.}

Se um corpo F tem característica p (em que p é zero ou um número primo), então existe um subcorpo K ⊆ F {\displaystyle K\subseteq F} e um isomorfismo de corpos ϕ : Q → K {\displaystyle \phi :\mathbb {Q} \to K} (p = 0) ou ϕ : Z p → K {\displaystyle \phi :\mathbb {Z} _{p}\to K} (p primo). Além disso, o subcorpo K e o isomorfismo φ são únicos.

Corpos de fracções

Seja S {\displaystyle S} um anel comutativo com unidade e sem divisores de zero. Então é possível mergulhar S {\displaystyle S} num corpo F . {\displaystyle F.} Basta definir em S {\displaystyle S}  ×  ( S {\displaystyle (S}  \  { 0 } ) {\displaystyle \{0\})} a seguinte relação de equivalência ∼:

( a , r ) {\displaystyle (a,r)}  ∼  ( b , s ) {\displaystyle (b,s)} se e só se a . s = b . r . {\displaystyle a.s=b.r.}

Se ( a , r ) {\displaystyle (a,r)} for um elemento de S {\displaystyle S}  ×  ( S {\displaystyle (S}  \  { 0 } ) , {\displaystyle \{0\}),} seja {\displaystyle } a sua classe de equivalência. Seja F {\displaystyle F} o conjunto das classes de equivalência. Podem-se então definir os seguintes elementos de F {\displaystyle F} e as seguintes operações:

Então F {\displaystyle F} é um corpo e a função

S ⟶ F a ↦ {\displaystyle {\begin{array}{ccc}S&\longrightarrow &F\\a&\mapsto &\end{array}}}

é uma função injectiva de S {\displaystyle S} em F . {\displaystyle F.} O corpo F {\displaystyle F} designa-se por corpo de fracções do anel S . {\displaystyle S.}

Exemplos:

Ver também

Notas e referências

  1. a b c Jacobson, 1985, p. 87–91
  2. Os números surreais, na sua formulação original, não formam um conjunto. Consequente, não são um corpo. No entanto, esta limitação pode ser ultrapassada, limitando a construção dos números surreais a um Universo de Grothendieck.
  3. Jacobson, 1985, p. 116–117

Bibliografia